"A Casa Quieta" retrata-se o amor, a traição, a perda, os sonhos, as pressões familiares para a natalidade, os rituais estabelecidos por nós, o distanciamento de entes queridos face ao donte mental... Isto tudo começando do fim, indo para o início e voltando para o fim, ou seja, partimos de 2005, depois somos levados para 1985 para depois retornar a 2005. A linguagem mais sofredora, mais liberta do pensamento das várias personagens no ano de 2005, torna a leitura difícil, por vezes confusa, onde se misturam o monólogo interno com o diálogo inventado ou desejado, numa fronteira por vezes ténue. Mesmo assim as várias histórias da história merecem uma leitura, embora não a ideal para depois de um longo dia de trabalho!
Alguns excertos:
"[...:] deixe-me falar-lhe de certas vezes em que tentei esconder nojo verdadeiro, em que senti que tinha tomado um caminho impenetrável, irresolúvel já, pelo número de anos que deixei andar [...:] perceber que me estava destinado defender quem não tem perdão possível, burlões assassinos assaltantes, ouvir a sua incongruente versão, escutar depoimentos a congeminar pontos de fuga, não a ouvir e indignar-me, não a ficar corado, insultá-los, passar à agressão
Sai-me já da frente
Quem te prende sou eu
mas a limitar-me a anuir, tirando apontamentos, revendo mentalmente artigos do código que me poderiam ser úteis, para assim serem úteis ao ladrão, ao violador" pág. 108
"A coragem costuma esgotar-se-nos no essencial, e gerimos todo o silêncio que se segue na aturada engenharia de uma nova mentira, ou uma sucessão delas. Os militares chamam-lhe contenção de danos." pág. 119
"Os balanços são fáceis. Porque não adiantam nada. Chegamos a conclusões apenas para nos magoarmos. Ou para ter saudades. Quando na verdade não adianta. Gostamos de reflectir, de conjecturar. Achamos que isso faz de nós pessoas sensíveis, sensatas. Temos a mania das palavras. É o que distingue de facto dos animais. Somos bicho que adora conversar e que pensa que vai chegar a algum lado." pág. 165
"Apesar de não falar e parecer não ouvir. O meu marido havia de gostar que os filhos o visitassem. Está num sítio que dizem que é melhor para ele. Eu não compreendo que haja sítios melhores que a nossa casa. Mas também sei que nunca fui uma casa. Nunca fui a casa dele." pág. 175
3 comentários:
Engraçado...
A mim aconteceu-me o oposto... foi-me oferecido num Natal, sem expectativas nenhumas apenas porque partilhamos a mesma profissão...
E gostei. Da interligação de personagens, mudança de tempos... dinâmica...
Foi um prazer visitar este cantinho pela primeira vez e reconhecer-me logo nele.
Um beijinho,
Obrigado pela visita :D
Relativamente às personagens, elas têm credibilidade e são coerentes e consistentes ao longo da história, só não apreciei a "técnica" utilizada de a contar.
Ainda tenho a "Mulher em Branco" em lista de espera para leitura (que é enorme, por força das promoções, descontos e passatempos). Então aí sim, espero reconhecer-me no autor!
Um abraço,
Miguel
You're most welcome.
Então somos dois...
Tenho 4 na prateleira a olhar para mim... ainda ontem dei fim a outro...
E viva a feira do Livro, os empréstimos dos amigos e os passatempos...
Se não te reconheceres nesse outros virão.
Um beijinho,
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