sábado, julho 17, 2010

A Casa Quieta - Rodigo Guedes de Carvalho

Este é o primeiro livro que leio do Rodrigo Guedes de Carvalho. As expectativas eram, não vou negar, altas. Expectativas que não foram alcançadas com este livro... Tenho um outro, Mulher em Branco, para ler numa destas semanas...

"A Casa Quieta" retrata-se o amor, a traição, a perda, os sonhos, as pressões familiares para a natalidade, os rituais estabelecidos por nós, o distanciamento de entes queridos face ao donte mental... Isto tudo começando do fim, indo para o início e voltando para o fim, ou seja, partimos de 2005, depois somos levados para 1985 para depois retornar a 2005. A linguagem mais sofredora, mais liberta do pensamento das várias personagens no ano de 2005, torna a leitura difícil, por vezes confusa, onde se misturam o monólogo interno com o diálogo inventado ou desejado, numa fronteira por vezes ténue. Mesmo assim as várias histórias da história merecem uma leitura, embora não a ideal para depois de um longo dia de trabalho!

Alguns excertos:

"[...:] deixe-me falar-lhe de certas vezes em que tentei esconder nojo verdadeiro, em que senti que tinha tomado um caminho impenetrável, irresolúvel já, pelo número de anos que deixei andar [...:] perceber que me estava destinado defender quem não tem perdão possível, burlões assassinos assaltantes, ouvir a sua incongruente versão, escutar depoimentos a congeminar pontos de fuga, não a ouvir e indignar-me, não a ficar corado, insultá-los, passar à agressão
Sai-me já da frente
Quem te prende sou eu
mas a limitar-me a anuir, tirando apontamentos, revendo mentalmente artigos do código que me poderiam ser úteis, para assim serem úteis ao ladrão, ao violador
" pág. 108

"A coragem costuma esgotar-se-nos no essencial, e gerimos todo o silêncio que se segue na aturada engenharia de uma nova mentira, ou uma sucessão delas. Os militares chamam-lhe contenção de danos." pág. 119

"Os balanços são fáceis. Porque não adiantam nada. Chegamos a conclusões apenas para nos magoarmos. Ou para ter saudades. Quando na verdade não adianta. Gostamos de reflectir, de conjecturar. Achamos que isso faz de nós pessoas sensíveis, sensatas. Temos a mania das palavras. É o que distingue de facto dos animais. Somos bicho que adora conversar e que pensa que vai chegar a algum lado." pág. 165

"Apesar de não falar e parecer não ouvir. O meu marido havia de gostar que os filhos o visitassem. Está num sítio que dizem que é melhor para ele. Eu não compreendo que haja sítios melhores que a nossa casa. Mas também sei que nunca fui uma casa. Nunca fui a casa dele." pág. 175

3 comentários:

izzie disse...

Engraçado...
A mim aconteceu-me o oposto... foi-me oferecido num Natal, sem expectativas nenhumas apenas porque partilhamos a mesma profissão...
E gostei. Da interligação de personagens, mudança de tempos... dinâmica...

Foi um prazer visitar este cantinho pela primeira vez e reconhecer-me logo nele.

Um beijinho,

Miguel disse...

Obrigado pela visita :D

Relativamente às personagens, elas têm credibilidade e são coerentes e consistentes ao longo da história, só não apreciei a "técnica" utilizada de a contar.

Ainda tenho a "Mulher em Branco" em lista de espera para leitura (que é enorme, por força das promoções, descontos e passatempos). Então aí sim, espero reconhecer-me no autor!

Um abraço,
Miguel

izzie disse...

You're most welcome.

Então somos dois...
Tenho 4 na prateleira a olhar para mim... ainda ontem dei fim a outro...
E viva a feira do Livro, os empréstimos dos amigos e os passatempos...

Se não te reconheceres nesse outros virão.

Um beijinho,